REDAÇÃO XVII – ESTRUTURA DISSERTATIVA – ALDRY SUZUKI AMO VOCÊS!!!

REDAÇÃO XVII

ESTRUTURA DISSERTATIVA

ALDRY SUZUKI AMO VOCÊS!!

1.PROCEDIMENTOS

INTRODUTÓRIOS DA DISSERTAÇÃO

O parágrafo introdutório (tese) apenas apresenta o assunto a ser discutido e contém a ideia central ou tópico frasal. Os parágrafos subsequentes devem desenvolver a(s) ideia(s) na tese, ampliando-a(s) por meio de exemplos, evidências, juízos etc.

Há muitos procedimentos para se elaborar o parágrafo introdutório (tese): partindo  do geral para o particular, do passado para o presente, usando comparações, conceitos, definições, citações, interrogações, etc.

Cada uma das introduções a seguir foi delimitada por um procedimento que não precisa necessariamente manter-se no desenvolvimento do texto. Assim, se a tese apresenta uma trajetória histórica, o desenvolvimento não precisa obrigatoriamente apresentar um conteúdo de igual teor. Os exemplos abaixo têm como tema o trabalho.

Traçando uma

trajetória histórica

do passado ao presente

Desde que aprendeu a manejar o fogo e a roda, o homem passou a gerar uma força produtiva, que desencadeou as invenções, as conquistas e o progresso. Mas essa produtividade prejudicou o relacionamento entre os povos, assim como entre patrão e empregado, no domínio pela tecnologia e na exploração da mão-de-obra.

Comparando socialmente

geograficamente, ou fazendo

oposições de qualquer natureza

Nos países capitalista, o trabalho tanto oprime quanto liberta: para os assalariados, ele é a síntese das injustiças sociais; para o empresário, é o exemplo da livre-iniciativa. Nos países socialistas, o operariado e o campesinato trabalham para uma força totalitária – o Estado.

Conceituando ou definindo

uma ideia ou uma situação

Trabalho é uma força produtiva que se opera pelo empreendimento físico ou intelectual. Uma sociedade revela-se injusta quando subestima o trabalho artístico, avilta o intelectual e marginaliza o braçal em favor daqueles que detêm a propriedade, a indústria e o comércio.

Contestando uma

ideia ou uma citação

“O trabalho enobrece o homem”. Essa máxima, que somos levados a respeitar , oculta a divisão de trabalho que avilta, usurpa, desgasta, sem jamais enobrecer. Ao conceito de trabalho deveriam corresponder a realização, a estabilidade e a valorização, além da diminuição da exploração e das diferenças de classe.

Elaborando uma

sequência de interrogações

O que define o trabalho? O tempo investido na manufatura de um produto? O esforço empreendido para se executar uma tarefa? A  prestação de serviços? Trabalho é um meio de realização pessoal ou de exploração alheia?

Elaborando uma

enumeração de informações

Discutir o trabalho é aprofundar questões sociais. Aos nossos questionamentos não faltam a preocupação com a escolha profissional, a remuneração , a satisfação pessoal e o status, fatores que distinguem o trabalho em todas as suas variantes, do braçal ao intelectual.

Caracterizando

espaços ou aspectos

O som ensurdecedor dos teares, a atmosfera saturada das usinas, a monotonia dos escritórios e o estafante serviço doméstico – é o trabalho sistemático que se resume em condicionada servidão.

Narrando um fato

Eram 4h30 da manhã quando Pedro arrumou a marmita de arroz, feijão e farinha e foi para a obra, onde é servente de pedreiro. Trabalhou até às 18 h e pegou o trem do subúrbio, completando uma rotina idêntica à de milhões de brasileiros cuja mão-de-obra é desqualificada.

Fazendo uso da linguagem figurada

O trabalho é o motor da sociedade. Cada atividade ou mão-de-obra articula-se na indústria, no comércio e na prestação de serviços, formando uma grande máquina movida pelo trabalhador.

Apresentando

Dados estatísticos

Com base no Censo realizado recentemente, o IBGE revelou que o desemprego saltou para a casa dos 7,5%. O Seade registrou 20,4% de desempregados na região da Grande São Paulo. É verdade que cada pesquisa mede um fenômeno diferente, maçom ps, por qualquer ângulo, o assunto é grave. O ministério da Previdência indica que 60% dos brasileiros que trabalham estão na informalidade. São 42 milhões de brasileiros, deixando apenas 28 milhões (40%) com as proteções da CLT.

2.Parágrafo

Argumentativo/
Expositivo

Um texto organiza-se numa sequência de parágrafos, sendo cada um deles (da tese à conclusão) um microtexto, cujo discurso é semelhante ao da dissertação integral no uso de metáforas, no teor polêmico, no caráter expositivo ou argumentativo, na escolha do vocabulário, no padrão da linguagem, na abordagem objetiva ou subjetiva etc.

Lembramos que no parágrafo introdutório – tese –pode haver mais de uma ideia-núcleo a ser desenvolvida no corpo do texto, sobretudo quando se inicia o texto utilizando uma comparação ou uma oposição.

Quando isso ocorre, até mesmo os parágrafos centrais (argumentação) apresentam duas ou mais ideias-núcleo. Observe essa ocorrência no exemplo seguinte:

Se, para o americano, o homem é geralmente bom – mau apenas quando não encontra condições de ser bom – para o brasileiro, tal como para a europeu, o homem é geralmente mau, a menos que prove o contrário. Consequência: nos Estados Unidos, o otimismo, um estado geral de receptividade simpática, de compreensão e de boa vontade entre os homens; no Brasil, o pé-atrás, a vigilância, uma difusa má vontade que as palavras polidas e as declarações enfáticas não conseguem disfarçar; nos Estados Unidos, o estímulo, o bom acolhimento às iniciativas; no Brasil, a desconfiança, o desestímulo, a suspeita de interesse subalterno nos mais elevados propósitos; nos Estados Unidos, a vida compreendida como integração num dever ou num sonho; no Brasil, a vida entrevista como busca de riqueza e de prazer, como “ofício cansativo “, algo definitivo e irremediavelmente prosaico; nos Estados Unidos, onde a vida comporta maiores desgastes de energia, a vida facilitada e desobstruída; no Brasil, onde o clima está clamando por economia de forças, verdadeiras odisseias de marchas e contramarchas a entravar as mais simples operações de natureza civil, comercial e administrativa; nos Estados Unidos, um capitalismo progressista, cada vez mais cônscio  de suas responsabilidades sociais; no Brasil, um capitalismo do tipo europeu que ainda acredita em truques e cartéis, em pequena produção e preços altos, e que nas relações com os trabalhadores ainda se nutre dos conceitos feudais e paternalísticos do século XVIII; nos Estados Unidos , o lado bom da natureza humana podendo desdobrar-se em sua plenitude; no Brasil, a maledicência, a suspeita, o medo do ridículo – o estúpido medo brasileiro do ridículo – desestimulando as qualidades positivas em proveito das negativas; nos Estados Unidos, a crença de que a bondade acabará  Triunfando sobre a maldade e a saúde sobre a doença; no Brasil, dúvidas e reservas mentais de toda natureza.

(Vianna Moog)

No texto lido, há pares de ideias-núcleos, evidenciando diversos aspectos contrastivos das duas culturas. Dissertando num único parágrafo, o autor, como recurso estilístico, usa ponto-e-vírgula com função de ponto-final.

Um único parágrafo pode apresentar uma organização dissertativa, contendo tese, argumentação/exposição e conclusão, funcionando como um microtexto. Atente para o exemplo:

A história demonstra que o convívio social foi (e continua a ser) decisivo para o desenvolvimento da humanidade. As descobertas de um membro do grupo, comunicadas aos outros, tornam-se estímulos e ponto de partida para novos aperfeiçoamentos e novas descobertas. Transmitidas  de geração em geração, não se perdem com a morte de seus descobridores. Recomeçando de onde outros pararam, as novas gerações podem avançar  sempre mais. Graças à sociabilidade, que colocou em comum os esforços de muitas inteligências, a humanidade das cavernas já avança rapidamente na conquista do universo extraterreno.

(Gleuso Damasceno Duarte)

Seja argumentativo, seja expositivo, o desenvolvimento de um texto dissertativo geralmente apresenta uma ideia-núcleo por parágrafo. Para não se tornar apenas uma afirmação superficial, a cada ideia-núcleo devem ser agregadas justificativas, análises, exemplos etc.

Observe como a ideia-núcleo abaixo não tem força argumentativa, por lhe faltar explicação mais específica e pormenorizada:

É fundamental pensar os aspectos morais e sociais da vida sexual.

Atente para as questões que qualquer leitor gostaria de ver explicadas com relação à afirmação feita:

  • #     O que significa pensar os aspectos morais e sociais da vida sexual?
  •     #        Por que esses aspectos são fundamentais?
É fundamental pensar os aspectos morais da sexualidade, refletindo sobre as instituições – como a igreja, a família e a escola – perpetuadoras dos padrões de comportamento que, na maioria das vezes, cercam de preconceitos o despertar sexual. Os aspectos sociais do problema dizem respeito à responsabilidade decorrente de relações imaturas que podem provocar desequilíbrios emocionais, doenças venéreas ou ainda levar a uma gravidez não-planejada.

3.Tipos de parágrafo
Argumentativo/
Expositivo

Os parágrafos expositivos/argumentativos podem ser desenvolvidos por meio de paralelismos, evidências, analogia ou comparação, causa e consequência, fatos históricos, dados e cifras, passagens narrativas e descritivas, hipóteses etc.

Apelar para o senso comum, valendo-se da intuição e das relações óbvias que podemos deduzir de experiências coletivas e hipotéticas, é uma fórmula recorrente para elaborar uma dissertação. Trata-se de uma alternativa para quem não dispõe de um acervo cultural abrangente.

Os modelos apresentados são parágrafos centrais de dissertações, de que foram excluídas a tese e a conclusão.

No primeiro exemplo , é imediata a relação que se estabelece entre a música e o estado de prazer que ela proporciona.

No segundo exemplo, o senso comum conhece o fato de que a criança fica muito tempo exposta à televisão.

Equilíbrio e bem-estar pela música

(…) A música tem sido uma das principais válvulas de escape do homem moderno para extravasar suas emoções. O clássico, o romântico , o rock pauleira, cada qual expressa um momento de nossas vidas. Talvez não percebamos isso conscientemente, mas os sons nos invadem  chegando à nossa essência mais íntima. (…)

(Regina Azevedo)

Televisão

(…)Nessa hora, não veem que basta um “clic” para desliga-la. O problema é que o simples girar de um botão nunca foi tão difícil. O tempo de exposição da criança à tevê cresce a cada dia, principalmente nas grandes cidades. São filhos de pais sem tempo (com dois ou três empregos), sufocados em apartamentos e entregues a uma babá eletrônica. Na carência de opções, eles se apegam a esta fonte inesgotável de atrações. (…)

 

(Andréa Vieira)

4.Hipótese

A hipótese , no texto dissertativo, antecipa uma previsão, apontando prováveis resultados. Portanto, os argumentos hipotéticos são geralmente determinados por uma condição virtual de realização.

A escola do futuro

(…) se não houver opção imediata para investir em programas de educação básica, a corrida pelo avanço científico e pela modernização sociocultural estará perdida  de antemão. (…)

                         (José Marques de Melo)

Se o que está estocado hoje nos países ricos fosse distribuído igualmente para todos, cada pessoa poderia consumir as 2.500 calorias (vegetais e animais) de que necessita para viver com dignidade.

(Jornal Opinião)

5.Trajetória histórica

Fazer uma trajetória histórica é um recurso oportuno para tornar convincente a exemplificação. Deve-se recorrer a esse argumento quando se tem conhecimento que legitime a fonte histórica.

Para o vestibulando, é uma oportunidade de provar sua cultura geral.

Cinema

(…) Para os que nasceram do início da década de 60 em diante, o termo chanchada sempre andou junto com outra palavra. O governo ditatorial instaurado em 1964 liquidou o Cinema Novo – movimento que estava levando os temas sociais para o público brasileiro – institucionalizando a pornochanchada, comédia urbana que apela para chulices de mau gosto e que nada tem a ver com os filmes que na década de 50, levaram verdadeiras multidões aos cinemas.(…)

                             (Revista Sala de Aula)

Português: do lírico ao épico

(…) O Português arcaico, que se dá a conhecer através da literatura trovadoresca, faz parte ainda do universo medieval. É no século XVI, sob a influência do Renascimento, que nasce o Português moderno. Sistematizado nas primeiras gramáticas, pereniza-se na rica literatura do período, que encontra sua expressão máxima na publicação d’Os Lusíadas, de Camões. Pelos séculos XI, e XII, o acervo da língua portuguesa não chegava a 5 mil palavras. No século XVI, Camões, só n’ Os Lusíadas, usou em torno de 6 mil palavras. (…)

(Paradidáticos da Ática)

O equilíbrio através dos sonhos

(…) Há cerca de um século, cientistas como Freud, Jung e Adler, entre outros, começaram a pesquisar o conteúdo dos sonhos, afim de descobrirem como e por que ocorrem , qual a origem das imagens que mostram, o significado dos símbolos que abrigam e, acima de tudo, que papel desempenham na vida do ser humano. (…)

 

(Elsie Dubugras)

O papel do negro

O papel do negro escravo foi decisivo para os começos da história econômica de um país fundado, como era o caso do Brasil, sob o signo do parasitismo imperialista. Sem o escravo, a estrutura econômica do país jamais teria existido. O africano escravizado construiu as fundações da nova sociedade com a flexão e a quebra de sua espinha dorsal, quando ao mesmo tempo seu trabalho significava a própria espinha dorsal daquela colônia. Ele plantou, alimentou e colheu a riqueza material do país para o desfrute exclusivo da aristocracia branca; tanto nas plantações de cana-de-açucar e café e na mineração, quanto nas cidades, o africano incorporava as mãos e os pés das classes dirigentes   que não se autodegradavam em ocupações vis como aquelas do trabalho braça. A nobilitante ocupação das classes dirigentes – os latifundiários, os comerciantes, os sacerdotes católicos – consistia no exercício da indolência , no cultivo da ignorância, do preconceito, e na prática da mais licenciosa luxúria.

(Abdias do Nascimento)

6.Interrogação

No vestibular, deve-se usar com parcimônia a argumentação interrogativa. A sucessão de interrogações deve apresentar questionamento e reflexão.

Se as orações interrogativas expressarem dúvidas e estas não forem elucidadas na sequência do texto, as interrogações tornam-se uma argumentação retórica que falseia o raciocínio, escamoteando os argumentos para o leitor.

A lei do porte de armas

(…) Será que a nova capitulação do porte ilegal de armas de fogo como pena mais grave vai coibir o uso de armas de fogo ou diminuir a violência no país?

O porte ilegal de armas de fogo já era um ilícito penal e nem por isso as pessoas que usavam armas, mesmo de forma irregular ou ilegal, deixaram de fazê-lo nem a polícia teve condições de impedir o uso ilegal de armas.

Será que o cidadão comum que cumpre com suas obrigações e tem uma arma em casa ou que a transporta para a sua segurança é o responsável pelo aumento de crimes?

Um ou outro episódio isolado envolvendo pessoas comuns em crimes não justifica a nova capitulação, em que a intenção manifesta seria coibir pela via do endurecimento das penas. (…)

(Renato Gomes Nery)

Eu desisti do Brasil

(…) Se o criminoso, segundo o próprio Judiciário, deve ser beneficiado com uma pena leve, o que acontecerá com o resto da sociedade? Vamos colocar grades em todas as portas e janelas? Nos estrincheirarmos dentro de nossas próprias casas? Reduzir a circulação de pessoas? Nos armarmos até os dentes? Viver numa colônia penitenciaria, como na ficção kafkiana ? Se a justiça é inócua, as leis protegem o bandido e a impunidade campeia , a sociedade fica literalmente jogada às feras. É como se vivêssemos no velho oeste, povoado de ladrões, bandoleiros e assassinos, mas sem nenhum candidato a xerife. (…)

(Rudy Volkman)

7.Definição

Definir ou conceituar um ideia é uma possibilidade que muitos assuntos permitem, desde que se esteja seguro de seu conteúdo. Observe que não basta emitir uma ideia-núcleo; é preciso desdobrá-la ao máximo, elucidando o valor de seu conceito ou definição.

(…) A criatividade não se limita à pintura, produção literária ou inovações científicas. Abrange a habilidade em usar o cérebro para alterar, renovar e recombinar aspectos da vida. Criar implica sentir o mundo com vitalidade e fazer o novo uso do que se percebeu (…)

(Revista Planeta)

Privilegium

A palavra “privilégio” vem do latim “privilegium” e nela se identificam as raízes “privus” (privado) e  “lex” (lei). A etimologia não poderia ser mais clara para definir as aposentadorias especiais dos políticos: legislação em causa própria.

Enquanto um trabalhador comum vê-se obrigado a contribuir por 35 anos (30 no caso das mulheres) para depois receber sua aposentadoria, os políticos armaram pelo Brasil afora uma imensa rede de carteiras de aposentadoria que lhes dão o “direito” de, em geral com apenas  oito anos de contribuição, ver uma generosa quantia depositada todos os meses em sua conta.

(“Editorial”. Folha de S. Paulo)

(…) A língua é um conjunto de sinais que exprimem ideias, sistema de ações e meio pelo qual uma dada sociedade concebe e expressa o mundo que o cerca; é a utilização social da faculdade da linguagem. Criação da sociedade, não pode ser imutável; ao contrário, tem de viver em perpétua evolução, paralela à do organismo social que a criou.(…)

(Celso Cunha)

8.Refutação

Refutar ideias ou juízos admitidos consensualmente é um desafio enriquecedor da argumentação. Nesse procedimento, investe-se contra a normatividade, o stablishment, questionando valores, conceitos e juízos.

O domínio cabal do assunto e a habilidade discursiva são determinantes na intenção persuasiva do texto.

Mesmo nos vestibulares, o candidato pode revelar esse arrojo em sua dissertação, quando a proposta favorecer a discordância.

Intolerância à brasileira

(…) Ao contrário do que contam as vozes oficiais , o Brasil não é um país de tradição liberal, pacífica, cordial: desde a chegada de Cabral e dos colonizadores a essas então paradisíacas praias, a nossa história tem sido antes de tudo um mar de intolerância, de censura, de proibições, de perseguições – e até de morte para aqueles que não aceitam as regras impostas pela maioria ou por aqueles  que têm representantes no poder. (…)

(Marco Antônio de Carvalho)

9.Comparação

Comparar situações distintas que têm em comum pontos de semelhança,  é estabelecer  uma analogia – recurso expressivo que pode também gerar imagens metafóricas.

Paranoias

A paixão futebolística é como a paranoia do ciumento: organiza o mundo de modo a confirmar suas crenças e suspeitas.

Assim como o ciumento (vide Dom Casmurro) acha que tudo é indício da traição de sua mulher, o torcedor fanático vê em qualquer coisa o sinal de uma perseguição ao seu time ou de favorecimento ao adversário.

(Fragmento de “Paranoias”, José Geraldo Couto, Folha de S. Paulo, 13/01/2001.)

Sem terra e sem nome

O Brasil de Eldorado de Carajás que os telejornais mostraram e os jornais detalharam é mais parecido com a Libéria, a Somália e outras nações africanas que se dissolvem na selvageria das guerras tribais.

Aqui, as tribos em guerra não declarada não se dividem a partir de linhas étnicas, mas sociais.

De um lado, os “com-tudo” ou quase tudo. Do outro, os que nem nome têm, na hora da morte, como não tinham uma vida digna desse nome.”

(Clóvis Rossi)

10.Perspectiva

Ao se empreender uma discussão, pode-se firmar uma perspectiva sobre o assunto, antecipando eventuais resultados.

Propor uma solução (possibilidade geralmente reservada para a conclusão) é um artifício argumentativo que exige coerência com o assunto. Não se deve aventar soluções impraticáveis em relação ao problema discutido.

A escola do futuro

(…) De qualquer maneira, torna-se indispensável incorporar as inovações tecnológicas às instituições de ensino, rompendo com o modelo de escola ritualista e burocrática. Nesse sentido, deve-se articular a educação formal com os processos mais velozes de assimilação intelectual que ocorrem através dos meios de comunicação de massa e da aprendizagem prática decorrente da inserção precoce dos adolescentes na vida profissional.

A escola do futuro poderá ser mais eficaz, absorbendo a tecnologia disponível para transmitir novos conhecimentos e para demonstrar novas formas de aplicação do saber acumulado. Mas ela só produzirá efeitos se contar com o empenho de professores autoconfiantes, mais bem treinados para as tarefas de salas de aula. Trata-se de um desafio a ser enfrentado pelas universidades e pelos centros de formação pedagógica(…)

(José Marques de Mello)

Tecnologia e humanismo

(…) É necessário, entretanto, penetrar nos arcanos desse labirinto tecnológico para imaginar as consequências práticas que poderão advir, quando se tornar possível a qualquer usuário falar em linguagem corrente com um aparelho, para lhe propor qualquer questão e ouvir de volta, em sua própria voz, e traduzida para qualquer idioma, as informações armazenadas nos bancos de dados e as soluções calculadas pelos recursos da computação. O conhecimento humano, infinitamente disperso em enésimas fontes, estará universalmente ao dispor de qualquer um, como um servo cérebro dotado de toda cultura acumulada e do poder das inteligências mais altas. A disponibilidade desse conhecimento e a utilização dessa inteligência continuarão, entretanto, a depender da cultura isso é, do conhecimento e da inteligência de que os utiliza. (…)

(Benedicto Ferri de Barros)

11.Causa e consequência

Uma argumentação convincente e bem fundamentada pode ser obtida por meio das relações de causa e consequência, em que são apontados os aspectos que causaram o problema discutido e suas decorrências.

A escola do futuro

(…) Nas últimas décadas a educação figurou como item inexpressivo nos investimentos públicos. A remuneração atribuída aos professores da rede estatal deixou de ser compensadora economicamente, causando a migração dos docentes qualificados para o exercício de atividades mais rentáveis. A eclosão de greves contínuas para reivindicar melhorias salariais desgastou e desmotivou o magistério.

O Professor perdeu a autoestima, razão pela qual decresce a procura  de oportunidades para adquirir competência pedagógica. Os jovens preferem direcionar-se para carreiras mais bem-sucedidas no mercado e mais bem valorizadas pela sociedade.(…)

(José Marques de Melo)

Comprovado: Criminoso é o Estado

(…) A incompetência do Estado em administrar os seus presídios, onde, além da superlotação, reinam a corrupção, tráfico de drogas, promiscuidade, falta de higiene e condições mínimas para que um condenado  não se esqueça de que é humano, é a causa principal que leva o criminoso a provocar incêndios, matar seguranças e possíveis companheiros delatores e ganhar a liberdade  ilegal. (…)

                      (Mozahir Salomão)

12.Bilateralidade

Apontar outro aspecto de uma discussão é um recurso dialético que permite ao leitor comparar dois lados de uma questão (bilateralidade).

Dessa forma, a discussão torna-se bilateral, evitando radicalizar um único ponto de vista. Esse recurso geralmente é usado quando o tema proposto para dissertação apresenta pontos favoráveis e desfavoráveis, como, por exemplo, o apelo erótico na propaganda, a informática nos países subdesenvolvidos, a televisão como meio de cultura etc.

O petróleo

(…) O petróleo é uma das principais fontes de energia do mundo atual. A sua utilização para o   bem-estar do homem e desenvolvimento da civilização é vasta e diversificada, sobressaindo aquela que o transforma nas mais diversas formas de energia, quer luminosa, calorífica, quer motriz, fazendo com que esteja presente no exercício das mais variadas atividades do elemento humano. Em contrapartida ele pode ser um dos principais agentes poluidores do meio ambiente. Por isso, para que a sua utilização seja realmente compensadora para o nosso bem-estar, necessárias se fazem várias medidas relacionadas com a preservação do ambiente em que vivemos. (…)

               (Revista Petrobras)

Jogos de guerra

(…)Bella matribus detestava…”(as guerras odiadas pelas mães)”. O verso de Horácio descreve de maneira sutil e sensível os horrores das guerras. Paradoxalmente, porém, guerras são momentos em que se materializam notáveis avanços científicos que mais tarde acabam beneficiando toda a humanidade.

As propriedades antibióticas do Penicillium notatum (penicilina), por exemplo, haviam sido descobertas em 1928 por sir Alexander Fleming , mas foi só em 1940, na segunda Guerra, que pesquisadores desenvolveram uma droga injetável e com valor terapêutico.

Analogamente, foi graças aos esforços para construir a bomba atômica que o homem passou a colher melhor e usar a energia nuclear, tanto para geração de energia elétrica como para a medicina.

Os computadores, responsáveis pela grande revolução tecnológica das últimas décadas, também só se concretizam com o esforço de guerra. (…)

(“Editorial”, Folha de S. Paulo.)

13.Evidência

Ao se expor uma ideia-núcleo, deve-se desenvolvê-la para que o parágrafo encerre um juízo completo. As evidências que comprovam a ideia podem decorrer de uma justificativa ou explicação.

(…) O que constitui problema para os países pobres é a atual divisão internacional do trabalho, que deixa para os ricos o arbítrio de impor preços para o que adquire nos países pobres. Não há nada falta de produção de alimentos. (…)

                                 (Jornal Opinião)

Televisão

(…) A influência da televisão sobre a criança nunca foi tão discutida como hoje. Psicólogos, pedagogos, educadores e comunicólogos se debruçam sobre o tema e tentam tirar conclusões. Há  um sem-número de pesquisas que constatam o impacto da tevê sobre o telespectador mirim e a lista de efeitos negativos supera a dos positivos. Torna as crianças agressivas, deixa-as obesas, com coordenação motora lenta, leva-as à imitação e erotização precoce.

(Andréa Vieira)

O socialismo morreu? Viva o socialismo

(…) E quando se fala em modernidade internacionalizante e de economias abertas, mais se acentua o caráter perverso do sistema capitalista mundial. Para nós, países industrializados do Terceiro mundo, o anti-humanidade deste regime é ainda mais revoltante, pois é dentro de nossas próprias fronteiras que se verifica esta indigna convivência entre a opulência, resultante da apropriação privada dos frutos da produção, e a mais terrível degradação social representada, por exemplo, pela existência de milhões de crianças sem escola, sem alimentos, sema saúde, sem o mais elementar vestígio de respeito à dignidade da pessoa humana. (…)

                 (Domingos Leonelli)

14.Oposição

Opor duas ideias numa argumentação é provar a capacidade de abordar dialeticamente um assunto, explorando com o mesmo interesse crítico dois polos que sustentam a discussão.

Para chegar a um posicionamento, bastaria mais um parágrafo ou a conclusão, confirmando ou refutando um dos pontos de vista debatidos.

Mulher: os caminhos da libertação

(…) É no seio da família que meninas e meninos recebem uma educação diferenciada. O menino aprende a ser agressivo, racional, seguro, independente, frio , forte, corajoso e “polígamo” (pode ter muitas mulheres). Características identificadas com a masculinidade.

A menina aprende a ser dócil, emocional, insegura, dependente, frágil, meiga e fiel. Características símbolo de feminilidade. Muita verdade está embutida numa frase que se tornou clássica: ” ninguém nasce mulher ou homem, tornam-se mulheres ou homens”.

Um dos primeiros presentes que a menina ganha é uma boneca. O menino ganha uma bola ou um caminhão. São as primeiras definições do universo feminino: a casa; do universo masculino: a rua.

A educação formal nas escolas, a religião, os meios de comunicação  têm reproduzido uma ideologia patriarcal que atravessa todas as esferas da sociedade e reforça a submissão de nós mulheres.

É com base nessas ideias, nessa ideologia machista que se desenvolve a dupla moral, uma moral para os homens, outra para as mulheres; a violência contra mulheres (estupros, espancamentos…); o conceito de mulher ideal, bonita de cabeça oca; o sistema comercial que faz da mulher um objeto e propaganda e um símbolo sexual.

No mundo do trabalho encontramos uma divisão clara introduzida pelo sistema capitalista: trabalho “fora de casa” (produção) e as “tarefas domésticas” (reprodução). (…)

(Isabel Pomar Bonnín)

A obra de arte: critérios a que obedecer

(…) A obra de arte, fundamentalmente, consiste numa interpretação objetivada duma impressão subjetiva. Difere, assim, da ciência, que é uma interpretação subjetiva de uma impressão objetiva. E da filosofia , que é, ou procura ser, uma interpretação objetivada de uma impressão objetiva.

A ciência procura as leis particulares das cousa – isto é, aquelas leis que regem os assuntos ou objetos que pertencem àquele tipo de cousas que se estão observando. A ciência é uma subjetivação, porque é uma conclusão que se tira de determinado número de fenômenos. A ciência é uma cousa real e, dentro dos seus limites, certo, porque é uma subjetivação de uma impressão objetiva, e é assim, um equilíbrio.(…)

                 (Fernando Pessoa)

16.Exemplificação

A estratégia argumentativa que melhor contribui para tornar o texto persuasivo e convincente é a exemplificação, que ilustra e fundamenta as ideias-núcleo. No primeiro texto, o autor demonstra um conhecimento peculiar do assunto discutido.

Sem a exemplificação correspondente a cada ideia-núcleo citada, a argumentação ficaria inócua.

Os  venenos da vida

(…) Busca-se, simplesmente, restabelecer a harmonia entre a produção e o cuidado com a natureza, de resto , herança e legado que não nos pertence. Enquanto nos centros maiores prospera essa consciência preservacionista, no interior de Minas Gerais e do País, depreda-se região sob cerrados, transformando-se coberturas nativas em carvão para alimentar o parque siderúrgico. Caem os pequizeiros, as cagaiteiras, as mamas-de-cadelas derrubada por tratores. Firme e silenciosamente, no entanto , a natureza devolve os maus-tratos. No vale do Jequitinhonha e em outras regiões, uma lagarta de nome estranho – tryrinteina arnobia – engole diariamente vários hectares de matas homogêneas, aproveitando-se do despovoamento de usa antipraga: os passarinhos afugentados pelo homem. (…)

(Maurício Pessoa )

Signo e ideologia

(…) Há um enorme série de exemplos de instrumentos, ou até mesmo produtos de consumo, que perderam seu sentido inicial para que se transformarem em signos, ou seja, que passaram a funcionar como veículos de transmissão de ideologias: o pão e o vinho para os cristãos; a balança da justiça; a maça do pecado; a pomba para a paz etc. (…)

(Adilson Citelli)

17.Cifras e dados

Uma ilustração convincente num texto dissertativo pode ser obtida por cifras e dados aproximados ou reais. Numa dissertação para vestibular, deve-se ter a garantia da fonte informativa (uma pesquisa notória, uma notícia de jornal), citada ainda que aproximadamente, a fim de que a argumentação não resulte em inferências e elocubrações infundadas.

A droga movimenta milhões

Os Estados Unidos são hoje o maior consumidor dessas drogas. Recente estudo do Departamento do Estado comprovou que na terra do Tio Sam cerca de 2,2 milhões de viciados, sem falar de milhões de dependentes de drogas comerciais, o que coloca esse aluvião de gente como potencial mercado para os traficantes.

Daí este quadro impressionante: só nos Estados Unidos a droga movimenta cerca de U$$100 bilhões por ano. É evidente que não se irá acabar com o narcotráfico se não puser um paradeiro ao uso da droga.

(Jornal Opinião)

A dança dos nomes

Todo mundo conhece a grandeza dos problemas que a China enfrenta para alimentar, vestir e abrigar 1,3 bilhão de habitantes. A revista The Economist mostra que além das dificuldades para garantir a oferta de comida, vestuário e habitação, a China está enfrentando um novo tipo de escassez: a escassez de nomes.

É isso mesmo. Estão faltando nomes e sobrenomes para atender a enorme demanda chineza  nesse campo. Assim é que os cinco sobrenomes mais comuns – Li, Wang, Zhag, Liu e Chen – são usados por nada mais nada menos do que 350 milhoes de pessoas. Só os que têm o sobrenome Li chegam a 87 milhões, ou seja, mas da metade da população brasileira.

(Antônio Ermínio de Moraes)

O universo mais próximo

A primeira dificuldade do telescópio, cujos olhos eletrônicos deverão sondar distâncias de até 14 bilhões de anos-luz, próximo ao momento do nascimento do Universo, envolveu uma antena de transmissão de dados que ficou presa a uma cabo. Sem a antena, o Hubble, que pode transmitir dados de uma enciclopédia de 30 volumes num período de 42 minutos , seria pouco mais de uma das milhares de peças, de parafusos e restos de foguetes e satélites, que formam uma crescente nuvem de lixo em órbita da terra.

(Ulisses Capozoli)

18.Enumeração

Na enumeração, desenvolve-se uma série de itens, que podem ou não ter sido apresentados na tese. A sequência enumerativa deve obedecer a critérios lógicos, como no texto abaixo, em que escola, literatura e meios de comunicação são apresentados na tese e desenvolvidos na argumentação, compondo a sequência de um processo.

As funções dos meios de comunicação

Quatro funções básicas têm sido convencionalmente atribuídas aos meios de comunicação de massa: informar, divertir, persuadir e ensinar. A primeira diz respeito à difusão de notícias, relatos, comentários etc. sobre a realidade, acompanhada, ou não, de interpretações ou explicações. A segunda função atende à procura de distração, de evasão, de divertimento, por parte do público. Uma terceira função é persuadir o indivíduo – convencê-lo a adquirir certo produto, a votar em certo candidato, a se comportar de acordo com os desejos de um anunciante. A quarta função – ensinar – é realizada de modo indireto ou direto, internacional ou não, por meio de material que contribui para a formação do indivíduo ou para ampliar seu acervo de conhecimentos, planos , destrezas etc.

                 (Samuel Piromm Netto)

19.O parágrafo conclusivo

Se na tese temos a apresentação do assunto, no desenvolvimento a ampliação e a comprovação da tese, na conclusão cabe o ponto de chegada ou arremate do assunto.

Na conclusão podemos elaborar uma síntese do conteúdo discutido, sugerir uma perspectiva de solução (caso a abordagem permita), retomar o posicionamento da tese ou , ainda, combinar essas possibilidades.

A conclusão pode ser também fechada, quando recupera a ideia da tese, ou aberta, quando levanta uma hipótese, projeta um pensamento, uma proposta ou faz uma pergunta retórica, instigando a reflexão do leitor.

Lembre-se de que a interrogação no parágrafo conclusivo (bem como ao longo do texto) encontra ressonância no leitor quando traz implícita a crítica bem-fundamentada, o comprovado conhecimento e a intenção questionadora.

Caso contrário, as interrogações constituem um recurso para desviar-se da discussão, repassando-a ao leitor, o que põe em dúvida a capacidade argumentativa do autor.

20.Retomada da tese

Retomada a tese é reafirmar um posicionamento, reforçando a ideia central.

Observe, nos modelos, duas teses e o endosso das respectivas conclusões. Foram omitidos os parágrafos argumentativos para que se possa perceber a pertinência entre a tese e a conclusão.

Tese

A gíria é um patrimônio comum, é um instrumento de comunicação que parece imprescindível sobretudo para a juventude. Até mesmo as gerações que a condenavam acabaram por assimilar algumas expressões de maior ocorrência. Os marginais contribuem com um repertório próprio, muitas vezes desconhecido pela população, e os meios de comunicação asseguram a penetração de elementos inovadores.

Conclusão

Pode-se deduzir que não há como expurgar do discurso de todos os falantes essa variante de comunicação, uma vez que os veículos de massa garantem a sua manutenção no sistema, realimentando o léxico com inovações linguísticas. Assim, não se deve preterir a norma privilegiada em favor da gíria, e sim equilibrar os registros de fala adequados a cada contexto social.

Tese

Revelando desejo, aflorando lembranças, antecipando acontecimentos e desdobrando os segredos do inconsciente, os sonhos encerram uma experiência que preenche as horas do sono, merecendo espaço na sabedoria popular desde a antiguidade.

Conclusão

Hoje sabemos que os sonhos compensam desejos reprimidos nos desvãos do inconsciente, atuando como um agente  equilibrador do psiquismo. Convivendo com as crenças populares, com as terminologias científicas, desvelando resquícios do passado ou canalizando as energias da libido , o sonho é o regulador do equilíbrio psíquico e um patrimônio de símbolos por estudar.

21.Síntese

Elaborar uma síntese significa enfeixar os enfoques dados ao assunto, de modo a resumir a discussão; em seguida, levanta-se uma projeção hipotética sobre o problema.

Para rompermos com toda essa situação de país subdesenvolvido, semicolonial, é preciso compreendermos que o Brasil não é exterior a nós, mas está em nós, faz parte do nosso corpo e da nossa alma. O problema da cultura brasileira é um problema nosso, um problema pessoal. Nossa existência será dependente e inautêntica enquanto for dependente e inautêntica a existência do País.

(Ronald Corbisier)

Bons estudo meus amores, com carinho de sua eterna Prof Dr Master Reikiana Aldry Suzuki bjs

A minha tese do doutorado: Corpo, corporal está neste link TESE DO DOUTORADO CORPO E CORPOREIDADE.pdf by AldrySuzuki

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